sábado, 14 de agosto de 2010

Um amigo

Algum dia, num lugar árido e seco, irás encontrar um amigo.
Este amigo irá levar-te pela eternidade.
Mas você só saberá desta amizade quando ele, subitamente,
morrer.

sábado, 6 de março de 2010

A sombra

baseado no conto "A Sombra", de hans christian andersen

Não há movimento, é tudo estático e sem ar. A terra gruda no chão e nem se quer um grão sai rolando ao sopro do vento. Os móveis e construções derretem e quando tocados queimam a pele seca e rachada dos poucos moradores dali.
O homem, sem movimento, sentado na cadeira de rodas que não giram, tem os olhos estalados na direção de uma varanda, única parte que resta de algo que já foi uma casa.
À casa resta a varanda, e ao homem sua sombra e seu pensamento, a sombra que se deslocava de acordo com o deslocamento do sol e o pensamento de algo ou alguém que ainda provocava ventanias e fazia salivar a boca dos homens.
Um dia pensou: “Se minha sombra ainda pode se mover, então porque ela, que sou eu, não desgruda de meus pés e vai, em busca do meu pensamento na varanda, do líquido e do vento que me deram vida?”.
E num grito dentro de si começou a conversar com a sombra: “Vá! Deixe meus pés, pare de seguir meus movimentos e vá! Vá...”
O dia passou e o homem adormeceu. O silêncio tomava as ruas quando uma pequena luz tocou no homem, a sombra apareceu novamente, receosa observou o homem, seu sono, sua respiração fraca e sufocada, olhou na direção da varanda e viu que passava uma brisa tranqüila, um ar fresco que há muito não sentia. Pensou ver um tecido vermelho como de uma saia e foi espiar.
Naquela noite a sobra dançou, dançou e dançou, por horas. E ela, que nunca tivera a doce sensação da água a deslizar pelo corpo, parecia brincar em uma cachoeira fria e leve.
Quando o dia clareou, a sombra, extasiada por aquele algo ou alguém na varanda se esqueceu de que deveria acompanhar o homem. Muito pelo contrário, decidiu que sairia pelo mundo a dançar e sentir o vento e a água a deslizar por sua superfície. Partiu. Alguns homens contam ter visto uma sombra a perambular pelas areias e dunas sem sentir sede ou calor, outros contam que um homem morreu sem sombra, sentado em uma cadeira de rodas.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre o tempo

Sobre o tempo que passa tão depressa que quase dois anos se passaram e eu nem percebi.